25/jun/2015, 18h38min
Estado considera caça massiva entre alternativas para conter a praga dos javalis
Fonte: http://www.sul21.com.br/jornal/estado-considera-caca-massiva-entre-alternativas-para-conter-a-praga-dos-javalis/
Luiza Bulhões Olmedo
Se estima que haja 500 mil javalis no Rio Grande do Sul | Foto: Divulgação
Os 500 mil javalis e javaporcos (cruza de javali com suíno) que vivem no Estado, devastando plantações, atacando bovinos, ovinos, cavalos e ninhos de animais silvestres nativos, foram tema de audiência pública na Assembleia Legislativa na manhã desta quinta-feira (25). Convocada pela Comissão de Agricultura, Pecuária e Cooperativismo, a audiência levantou possibilidades como a caça massiva, inclusive com auxílio das forças armadas, para conter os animais, que costumam se deslocar em varas de até 100 javalis, aniquilando plantações inteiras. Apenas um deles destrói 100 pés de milho por dia, segundo dados apresentados no encontro.
O javali foi introduzido em criações na Argentina e no Uruguai, de onde ingressou no Rio Grande do Sul e progressivamente avança. Como o animal é originário da Europa, não encontra predadores naturais aqui, e sua reprodução aumenta exponencialmente. Uma fêmea de javali tem em média dois partos por ano, e pode ter até 10 filhotes por parto. Quando a javali-mãe está no segundo parto, as filhas da ninhada já estão se reproduzindo. Ou seja, uma fêmea pode produzir, em 12 meses, 20 filhos e 50 netos.
As regiões mais afetadas do Estado por esta praga são: Santana do Livramento, Rosário do Sul, Alegrete, Barra do Quaraí, São Gabriel e Dom Pedrito. E a preocupação dos agricultores e pecuaristas, além das perdas na produção, é a disseminação de doenças. Os javalis podem transmitir aftosa, tuberculose, brucelose, leptospirose, entre outras zoopatias. A transmissão de doenças pode por em risco o certificado recebido pelo Rio Grande do Sul, em 2015, de Zona Livre de Peste Suína Clássica, emitido por órgãos internacionais.
Atualmente, os javalis no Rio Grande do Sul se aproximam também de áreas urbanas, mas é preciso lembrar que seres humanos não fazem parte da cadeia alimentar desses animais. Os javalis são violentos, mas só atacam quando são enfrentados.
Deputado Gilmar Sossella participou de audiência pública da Comissão de Agricultura, Pecuária e Cooperativismo | Foto: Juarez Junior/Agência ALRS
Segundo o professor de biologia da UFRGS Demétrio Guadagnin, os animais já estão na lista de espécies exóticas do Rio Grande do Sul há tempos, e não são uma exclusividade nossa. Esses animais estão entre as 100 piores espécies exóticas invasoras do planeta, já que são causa de prejuízos socioambientais em todos os continentes, menos na Antártida.
As opções para o controle ou erradicação da praga passam por medidas conjuntas a serem adotadas por diversos órgãos. A desburocratização da caça de javalis poderia ser uma saída, mas a caça amadora resolveria o problema apenas de maneira pontual. Algumas estratégias adotadas por outros países que enfrentam esse tipo de problema, como os cangurus na Austrália, poderiam ser a solução para lidar com os javalis. Entre elas: a caça massiva, com auxílio das forças armadas; currais de contenção; parceria com frigoríficos para amostra de enfermidades.
O estímulo à caça em larga escala surtiu efeitos positivos no Uruguai, que implementa medidas nesse sentido desde 1982. Segundo o presidente da Federação Gaúcha de Caça e Tiro, 6 mil associados estariam aptos à caça do javali no Estado, mas enfrentam problemas de burocracia no registro de armamentos (além de demorado é muito caro) e na regulamentação do transporte da carcaça (eles podem abater os animais, mas não levar para casa).
O resultado da Audiência Pública provavelmente será a formação de um grupo de trabalho para lidar com a questão dos javalis, a fim de produzir informações a respeito desses animais e seu impacto socioambiental, e de desenvolver políticas públicas abrangentes, consistentes e adequadas.